Citações sobre as Próprias Obras
[Levantamento feito com a curadoria de Projeto Tolkien. Atualizado por último em: 04/01/2024]
Este é um levantamento das melhores citações de J.R.R. Tolkien a respeito de suas próprias obras.
Caso seja de seu interesse, temos no total quatro compilados de citações aqui no Compendium:
- Citações Ficcionais sobre a Vida
- Citações Não-ficcionais sobre a Vida
- Citações sobre as Próprias Obras
- Citações Marcantes do Legendário
Salvo menção em sentido contrário, todos os trechos abaixo citados foram retirados das edições da HarperCollins Brasil.
Os trechos encontram-se em ordem cronológica de publicação. Confira uma lista de todos os livros aqui: Publicações de J.R.R. Tolkien.
As Cartas de J.R.R. Tolkien (1981)
A continuação de O Hobbit progrediu agora até o final do terceiro capítulo. Mas histórias tendem a sair de controle, e essa tomou uma direção não premeditada. [...] Meu Christopher e o Sr. Lewis aprovam-na o suficiente para dizer que acham que ela é melhor do que o Hobbit;
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 26)
minha mente, no lado da “estória”, está realmente preocupada com as estórias de fadas ou mitologias “puras” do Silmarillion, para o qual até mesmo o Sr. Bolseiro acabou sendo arrastado contra minha vontade original, e não creio que serei capaz de movimentar-me em demasia fora dele, a menos que ele seja terminado (e talvez publicado) — fato este que possui um efeito libertador.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 31)
Nos últimos dois ou três dias, após o benefício da inatividade e da permanência ao ar livre, e da permitida negligência do cumprimento de meus deveres, comecei a trabalhar novamente na continuação do “Hobbit” — O Senhor do Anel. A história agora está fluindo, e saindo muito de controle. Chegou até por volta do Capítulo VII e avança na direção de metas deveras inesperadas. Devo dizer que acredito que em certas partes e de algumas maneiras ela seja muito melhor que o predecessor; mas isso não quer dizer que eu acredite que ela seja mais apropriada ou mais adaptada ao público da história anterior. Em primeiro lugar, o público, como meus próprios filhos (que possuem os direitos imediatos de lerem o folhetim), está “mais velho”. Só posso dizer que o Sr. Lewis (meu corajoso apoiador do Times e do T.L.S.) declarou estar mais do que satisfeito. [...] Mas ela não é uma história de ninar.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 33)
Trabalhei arduamente por um mês (no período que meus médicos disseram que deveria ser dedicado a alguma distração!) em uma continuação de O Hobbit. Ela alcançou o Capítulo XI (mas em um estado bastante ilegível); estou agora completamente absorto nela, e tenho todos os encadeamentos em mãos [...] Quando falei [...] que essa continuação estava “saindo de controle”, não o fiz gratuitamente. O que eu realmente quis dizer é que a história está seguindo seu curso e esquecendo-se das “crianças”, tornando-se mais assustadora do que o Hobbit. Ela talvez se mostre bastante inadequada. É mais “adulta” [...] A escuridão dos dias atuais teve algum efeito sobre ela. Embora não seja uma “alegoria”.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 34)
Acho que O Senhor dos Anéis por si só é bem melhor do que O Hobbit, mas ele pode acabar não se mostrando uma continuação muito apropriada. Ele é mais adulto — mas o público para o qual O Hobbit foi escrito também é. Os leitores jovens e velhos que pediram “mais sobre o Necromante” são os culpados, pois o N. não é brincadeira de criança. [...] A composição de O Senhor dos Anéis é trabalhosa, pois a tenho feito tão bem quanto meu conhecimento permite, e levando em consideração cada palavra. A história também possui (afetuosamente imagino) alguma significância.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 35)
Um novo personagem entrou em cena (tenho certeza de que não o inventei, eu nem mesmo o queria, embora goste dele, mas ele veio caminhando para os bosques de Ithilien): Faramir, o irmão de Boromir — e ele está retardando a “catástrofe” com muitas coisas sobre a história de Gondor e de Rohan (com algumas reflexões muito válidas, sem dúvida, sobre glória marcial e glória verdadeira): mas, se ele continuar falando muito mais, boa parte dele terá de ser removida para os apêndices — para onde alguns fascinantes materiais sobre a indústria do Tabaco hobbit e os Idiomas do Oeste já foram.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 66)
Receio ter cometido um grande erro ao fazer minha continuação complicada e longa demais e demasiado lenta na publicação. É uma maldição ter o temperamento épico em uma época superlotada dedicada a pedacinhos ligeiros!
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 77)
Sam é o personagem mais atentamente delineado, o sucessor de Bilbo do primeiro livro, o hobbit genuíno. Frodo não é tão interessante porque ele tem de ser magnânimo e possui (por assim dizer) uma vocação. O livro provavelmente terminará com Sam.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 93)
Estou aflito (por mim mesmo) por não ser capaz de encontrar o “Anéis de Poder” que, com a “Queda de Númenor”, faz a ligação entre o Silmarillion e o mundo do Hobbit. Mas seus princípios básicos estão incluídos no Cap. II de O Senhor dos Anéis. Esse livro seria, é claro, mais fácil de escrever se o Silmarillion fosse publicado primeiro!
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 115)
Minha obra [O Senhor dos Anéis] escapou do meu controle e produzi um monstro: um romance imensamente longo, complexo, um tanto amargo e muito aterrorizante, bastante inadequado para crianças (se é que é adequado para alguém); e não é realmente uma continuação de O Hobbit, mas de O Silmarillion.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 124)
Eu desenvolveria alguns dos grandes contos na sua plenitude e deixaria muitos apenas no projeto e esboçados. Os ciclos deveriam ligar-se a um todo majestoso e, ainda assim, deixar espaço para outras mentes e mãos, munidas de tinta, música e drama.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 131)
Elfos e Homens são evidentemente uma raça, em termos biológicos, ou não poderiam procriar e produzir descendentes férteis — mesmo como um raro evento: há apenas 2 casos em minhas lendas de tais uniões, e fundem-se nos descendentes de Eärendil.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 153)
Sauron, é claro, não era “mau” em origem. Foi um “espírito” corrompido pelo Primeiro Senhor Sombrio (o Primeiro Rebelde subcriativo), Morgoth. Foi-lhe dada uma oportunidade de arrependimento, quando Morgoth foi derrotado, mas não conseguiu encarar a humilhação da retratação e da súplica pelo perdão; e, assim, sua inclinação temporária para o bem e para a “benevolência” culminou em uma recaída maior, até que se tornasse o principal representante do Mal de eras posteriores. Mas no início da Segunda Era ele ainda era belo de se ver, ou ainda podia assumir uma bela forma visível — e, de fato, não era totalmente mau, não a menos que todos os “reformistas” que desejam apressar-se com “reconstruções” e “reorganizações” sejam totalmente maus, mesmo antes de o orgulho e o desejo de exercer suas vontades devorá-los.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 153)
Mas é claro que humildade e consciência do perigo são necessárias. Um escritor pode ser basicamente “benevolente” no seu entendimento (como espero que eu seja) e ainda assim não ser “benéfico” devido ao erro e à estupidez. Eu afirmaria, se não achasse isso presunçoso em alguém tão mal instruído, ter como um objetivo a elucidação da verdade, e o encorajamento da boa moral neste mundo real, através do antigo artifício de exemplificá-las em personificações pouco conhecidas, que podem tender a “esclarecê-las”. Mas posso estar errado, é claro (em alguns ou em todos os pontos): minhas verdades podem não ser verdadeiras ou podem estar distorcidas: e o espelho que criei pode estar embaçado e quebrado. Porém, preciso estar completamente convencido de que qualquer coisa que “simulei” é realmente danosa, per se e não meramente porque é mal compreendida, antes de me retratar ou reescrever algo.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 153)
Ela [O Senhor dos Anéis] não é “sobre” coisa alguma além de si mesma. Certamente não possui intenções alegóricas, gerais, particulares ou tópicas, morais, religiosas ou políticas. A única crítica que me aborreceu foi a de que ela “não contém religião” (e “nem Mulheres”, mas isso não importa e não é verdade, de qualquer maneira). É um mundo monoteísta de “teologia natural”. O estranho fato de que não há igrejas, templos ou rituais e cerimônias religiosas simplesmente é parte do clima histórico descrito. Ele será suficientemente explicado se (como agora parece provável) o Silmarillion e as outras lendas das Primeira e Segunda Eras forem publicados. Em todo caso, sou cristão; mas a “Terceira Era” não era um mundo cristão.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 165)
O livro obviamente não é uma “trilogia”. Isso e os títulos dos volumes foram um embuste visto como necessário para a publicação, devido ao tamanho e custo. Não há uma divisão real em 3, nem uma parte é inteligível sozinha. A história foi concebida e escrita como um todo e as únicas divisões naturais são os “livros” I-VI (que originalmente possuíam títulos).
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 165)
Não sei o que quero dizer, visto que o “estético” é sempre impossível de se capturar em uma rede de palavras. Ninguém acredita em mim quando digo que meu longo livro é uma tentativa de criar um mundo no qual uma forma de idioma agradável à minha estética pessoal pudesse parecer real. Mas é verdade. Um inquiridor (entre muitos) me perguntou sobre o que era o S.A. e se ele era uma “alegoria”. E eu disse que era um esforço para criar uma situação na qual uma saudação comum seria elen síla lúmenn’ omentielmo2, e que a frase precedia em muito o livro. 2 “Uma estrela brilha sobre a hora de nosso encontro” (O Senhor dos Anéis, Livro I, Capítulo 3). A grafia na carta, omentielmo, é a mesma da primeira edição do livro, mas Tolkien posteriormente a modificou para omentielvo.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 205)
[...] escrevi deliberadamente uma história, que está construída sobre ou a partir de certas ideias “religiosas”, mas não é uma alegoria delas (ou de qualquer outra coisa) e não as menciona abertamente, menos ainda as prega [...].
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 211)
Posso dizer, porém, que se a história é “sobre” alguma coisa (além de si mesma), não é, como parece ser amplamente suposto, sobre “poder”. A busca pelo poder é apenas a força motriz que coloca os eventos em andamento, e creio ser relativamente sem importância. A história diz respeito principalmente à Morte e à Imortalidade, e às “fugas”: longevidade serial e memória acumulada.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 211)
Pessoalmente, não acho que cada guerra (e obviamente não a bomba atômica) teve qualquer influência tanto sobre o enredo como sobre o modo de seu desenvolvimento. Talvez na paisagem. Os Pântanos Mortos e as proximidades do Morannon devem algo ao norte da França depois da Batalha do Somme. Devem mais a William Morris e seus hunos e romanos, como em The House of the Wolfings ou The Roots of the Mountains.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 226)
Frodo empreendeu sua demanda por amor — para salvar o mundo que conhecia do desastre ao custo de si próprio, caso pudesse; e também em completa humildade, reconhecendo que ele era totalmente inadequado para a tarefa. Seu compromisso real era apenas fazer o que pudesse, tentar encontrar um caminho e ir o mais longe na estrada que sua força de mente e corpo permitisse. Ele fez isso.
— As Cartas de J.R.R. Tolkien (Carta n.º 246)
A Natureza da Terra-média (2021)
Deve-se recordar, no entanto, ao considerar os registros e as lendas do passado, que estes (em especial os feitos ou transmitidos pelos Homens) muitas vezes mencionam ou nomeiam apenas pessoas que desempenham um papel registrado nos eventos, ou que eram ancestrais diretos de tais atores principais. Portanto, não se pode concluir, apenas a partir do silêncio, quer na narrativa quer na genealogia, que determinada pessoa não tinha filhos, ou não mais do que os mencionados.
— A Natureza da Terra-média (Parte um: tempo e envelhecimento, 4. Escalas de Tempo)